A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) mudou radicalmente o mapa de acesso à Copa Libertadores e à Copa Sul-Americana para a temporada de 2026, em decisões anunciadas em dois momentos-chave em dezembro — e que já estão redefinindo as estratégias dos grandes clubes brasileiros. A mudança mais impactante? O vice-campeão da Copa do Brasil agora garante vaga direta na Copa Libertadores, enquanto o sexto colocado no Campeonato Brasileiro Série A cai para a Sul-Americana. É um virada de chave que põe em xeque décadas de tradição e coloca o torneio nacional no centro de um novo jogo de poder.
Libertadores: só os quatro primeiros, e o vice da Copa do Brasil entra na briga
Até 2025, seis equipes do Brasileirão tinham acesso à Libertadores: os quatro primeiros entravam direto na fase de grupos, e os dois seguintes (5º e 6º) jogavam a pré-Libertadores. Em 2026, isso acaba. Apenas os quatro primeiros do Brasileirão garantem vaga direta na fase de grupos da Libertadores. O quinto colocado mantém a vaga na pré-Libertadores — mas o sexto? Ele não vai mais à Libertadores. Em vez disso, cai para a Copa Sul-Americana. E quem ocupa o lugar vago? O vice-campeão da Copa do Brasil. Sim, isso mesmo: pela primeira vez, o segundo lugar no torneio eliminatório nacional terá direito a uma das vagas mais cobiçadas da América do Sul.
Segundo Rafael Ribeiro, representante oficial de comunicação da CBF, a decisão foi tomada para dar mais valor ao torneio de mata-mata. "A Copa do Brasil sempre foi o sonho do clube pequeno. Agora, ela também é a porta de entrada para o grande palco da América", disse Ribeiro após a reunião do Conselho Técnico em 18 de dezembro. A CBF ainda não decidiu se a vaga do vice da Copa será direta (fase de grupos) ou se passará pela pré-Libertadores — mas a tendência é que seja direta, para evitar que um time já forte, como Flamengo ou Palmeiras, acabe eliminando outro da Libertadores por causa de uma vaga que deveria ser de uma surpresa.
Quem fica de fora? E se os dois finalistas da Copa já estão classificados?
Essa é a grande incógnita. Se, por exemplo, o Flamengo (que acabou em 1º no Brasileirão) vencer a Copa do Brasil e o Palmeiras (2º no Brasileirão) for o vice, quem leva a segunda vaga da Copa? A CBF ainda não definiu. Há três cenários em análise: 1) a vaga vai para o 6º colocado no Brasileirão — mas isso anularia a mudança; 2) a vaga vai para o 7º colocado, mesmo que ele não tenha feito boa campanha na Copa; ou 3) a vaga é transferida para o 5º colocado, que já está na pré-Libertadores, e ele passa a ter duas chances — uma pela Série A e outra pela Copa do Brasil. "É um quebra-cabeça diplomático", admitiu um membro do Conselho Técnico sob anonimato. "Não queremos punir o clube que fez uma boa campanha no Brasileirão só porque foi bem na Copa também. Mas não podemos deixar uma vaga vazia."
Outra mudança estrutural: a Copa Sul-Americana passa a ter seis vagas diretas do Brasileirão — dos 6º ao 11º colocados. Mas isso também pode mudar. Se um time brasileiro vencer a Libertadores em 2026, ele já garante vaga na próxima edição. Isso abre uma vaga extra na Sul-Americana — que pode ser dada ao 12º colocado. Ou seja: o número de clubes brasileiros na Copa Sul-Americana pode variar entre seis e sete, dependendo do resultado da Libertadores.
Transferências liberadas: de seis para doze jogos
Se a mudança nas vagas da Libertadores foi um soco no estômago dos clubes menores, a alteração nas regras de transferência foi um alívio para os grandes. Em 2025, um jogador só podia ser transferido entre clubes da Série A após jogar seis partidas. Em 2026, esse limite sobe para doze jogos. Isso significa que um atleta pode trocar de time até a 12ª rodada sem perder direitos. "É um ajuste técnico", explicou o diretor de competições da CBF. "Com a competição começando em janeiro e o Mundial em junho, precisamos de mais flexibilidade para equilibrar os elencos."
Além disso, cada clube poderá registrar até cinco jogadores que já atuaram por outros times da Série A no mesmo ano — mas no máximo três desses jogadores podem ser de clubes diferentes. Ou seja: um time pode trazer três jogadores de três clubes distintos, e mais dois de um quarto clube. Isso abre espaço para contratações estratégicas de jogadores que se destacaram em temporadas curtas — e evita que times sejam penalizados por lesões ou desempenho abaixo do esperado.
Calendário apertado: Brasileirão começa em janeiro
Por causa da Copa do Mundo de 2026, que acontecerá entre junho e julho na América do Norte, o Brasileirão foi antecipado. A primeira rodada será em 28 e 29 de janeiro de 2026 — duas semanas antes do previsto. O campeão defensor, Flamengo, estreia fora de casa contra o São Paulo, no Morumbi. Já o vice-campeão de 2025, Palmeiras, abre a temporada contra o Atlético Mineiro, na Arena MRV.
As grandes rivais se enfrentam em dois momentos decisivos: o clássico entre Flamengo e Palmeiras está marcado para a 17ª rodada, no Maracanã, e a volta será na 36ª rodada — penúltima da competição. É quase certeza que o título será decidido nesses dois jogos. E o Majestoso? Corinthians e Palmeiras se enfrentam na 15ª rodada, em São Paulo, com a volta em Belo Horizonte na 16ª.
Por que isso tudo importa?
Essas mudanças não são apenas técnicas — são políticas. A CBF, sob nova gestão liderada por Ednaldo Rodrigues, está tentando equilibrar o interesse dos grandes clubes (que querem mais vaga direta na Libertadores) com o valor simbólico da Copa do Brasil (que sempre foi o sonho do pequeno). Ao dar uma vaga à equipe que venceu o torneio eliminatório, a entidade reconhece que o campeonato nacional não é mais o único termômetro de qualidade. E ao antecipar o Brasileirão, ela tenta evitar que a temporada seja cortada pela Copa do Mundo — algo que já aconteceu em 2014 e 2022, deixando clubes sem tempo para se preparar.
Para os torcedores, isso significa mais emoção: uma equipe que não está entre os quatro melhores do Brasileirão ainda pode sonhar com a Libertadores — basta vencer a Copa do Brasil. Para os clubes menores, é uma chance real de brilhar. Para os grandes, é uma nova pressão: não basta ser bom no campeonato. Precisa ser bom também no mata-mata. E no meio disso tudo, os jogadores ganham mais liberdade. O futebol brasileiro está mudando — e rápido.
Frequently Asked Questions
Como a nova regra da Copa do Brasil afeta os clubes pequenos?
Agora, qualquer time que chegue à final da Copa do Brasil — mesmo que seja um clube de pequeno orçamento — tem chance de disputar a Libertadores. Em 2025, só o campeão tinha esse direito. Agora, o vice também entra. Isso eleva o valor do torneio e dá motivação extra para equipes como Ceará, Fortaleza ou Athletico-PR, que podem surpreender. Um time como o Ceará, que chegou à final em 2024, teria garantido vaga na Libertadores em 2026 mesmo sem vencer.
Por que o sexto colocado do Brasileirão caiu para a Sul-Americana?
A CBF quer valorizar a Copa do Brasil como porta de entrada para a Libertadores. Antes, o sexto colocado tinha uma vaga na pré-Libertadores, mas muitos times já tinham garantido classificação por outros caminhos. Ao transferir essa vaga para o vice da Copa, a entidade cria um incentivo real para o torneio eliminatório, que historicamente tem mais emoção e menos previsibilidade. É uma forma de equilibrar o poder entre campeonato e copa.
O que acontece se o campeão da Copa do Brasil já estiver entre os quatro primeiros do Brasileirão?
Nesse caso, a vaga da Copa do Brasil vai para o vice-campeão. Se o vice também já estiver classificado pela Série A, a vaga será repassada ao 5º colocado — que já está na pré-Libertadores. Isso significa que o 5º colocado teria duas chances de classificação: uma pela Série A e outra pela Copa. A CBF ainda não decidiu se isso será permitido, mas é a opção mais provável para evitar que uma vaga fique vazia.
Por que a CBF aumentou o limite de jogos para transferência de 6 para 12?
Com o Brasileirão começando em janeiro e a Copa do Mundo em junho, o calendário está extremamente apertado. Aumentar o limite de jogos para transferência permite que clubes ajustem seus elencos sem penalizar jogadores que se machucam ou não se adaptam. Isso é especialmente útil para times que perdem jogadores importantes antes da metade da temporada e precisam de reforços rápidos — algo que já aconteceu com o Corinthians em 2024 e o Atlético-MG em 2023.
A mudança afeta o valor da Copa do Brasil?
Sim, e muito. Antes, só o campeão tinha acesso à Libertadores. Agora, o vice também tem. Isso eleva o valor da final — que passa a valer uma vaga em um torneio continental. A TV e os patrocinadores já estão se movimentando: a CBF negocia novos contratos de transmissão com aumento de 40% na taxa para a final da Copa do Brasil. O torneio, que era visto como secundário, agora é peça-chave do calendário.
Quando a CBF vai anunciar as decisões finais sobre as vagas da Copa do Brasil?
A CBF tem até o dia 15 de janeiro de 2026 para fechar os detalhes. O prazo é definido pelo calendário da CONMEBOL, que exige a confirmação oficial das vagas antes do sorteio da Libertadores, previsto para 18 de janeiro. A entidade prometeu um comunicado oficial até o dia 12, mas fontes internas indicam que a decisão final será tomada em reunião com os clubes da Série A no dia 10 de janeiro — um encontro que já está sendo aguardado com tensão.