Esquerdogata é presa em Ribeirão Preto após desacatar PMs e ameaçar virar deputada federal
Igor Martins 28 outubro 2025 14 Comentários

Aline Bardy Dutra, conhecida como Esquerdogata, foi presa na madrugada de sábado, 25 de outubro de 2025, em Ribeirão Preto, após resistir à abordagem de policiais militares e ser acusada de injúria racial. O vídeo da prisão, que viralizou em minutos, mostra a influenciadora de esquerda — com cerca de 1 milhão de seguidores — rindo, provocando e declarando: “Isso vai me fazer deputada federal. Vocês sabem disso, né?”. O episódio, que ocorreu em uma rua movimentada do centro da cidade, não foi apenas um choque de autoridade: foi um espelho da polarização política que divide o Brasil.

Um vídeo que explodiu a internet

O registro da prisão, feito por um pedestre, tem marcas de tempo que revelam a escalada da tensão. Aos 58 segundos, ela diz: “Marmita na esquina, né, milícia? Joga umas. Tem outra joga. Ah, vai jogar dele”. Aos 87 segundos, com voz de teatro, pergunta: “Sabe como militante ser presa?”. E aos 94 segundos, a declaração que virou mantra: “Vou ser deputada federal. Você é um policialzinho, ganha R$ 2.500...”. Essas frases não foram ditas em tom de desespero, mas de provocação deliberada — como se ela soubesse que a câmera estava ligada e que o mundo assistiria.

Os policiais, segundo relatos da PM, a abordaram após receberem denúncia de injúria racial. Aline nega a acusação, mas não nega o desacato. “Eles me chamaram de ‘negra da porra’?”, disse ela em outro trecho, sem confirmar ou negar diretamente. O que é certo: ela usou termos como “policialzinho”, “sandália”, “licença premium” e “não tem cin” — uma referência ao CIN, cartão de identificação da polícia — para desqualificar os agentes. Não era só desrespeito. Era uma performance política.

Uma militante que vive na linha de frente

Aline Bardy Dutra não é uma influenciadora comum. Ela se apresenta como ativista de esquerda, com histórico de infiltrações em eventos de extrema direita. Nos dias que antecederam a condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal, ela se disfarçou entre apoiadores do ex-presidente em Brasília, gravando vídeos com “muito bom humor”, como ela mesma descreveu em entrevista no YouTube. Em um deles, ela agradece “aos patriotas amados”, “ao bombeiro” e até “à dona Trump por querer escravizar nosso povo” — brincadeira que, em contexto, se torna crítica política.

Essa estratégia de infiltrar-se nos grupos adversários é rara no Brasil. Ela não apenas observa: ela expõe. E isso incomoda. Tanto que, em agosto de 2025, o deputado federal Nikolas Ferreira — conhecido por sua postura conservadora e por ser um dos mais ferrenhos defensores de Bolsonaro — apresentou uma queixa-crime contra ela por supostas ameaças e incitação ao ódio. O processo ainda tramita na Justiça, mas agora, com a prisão, ele ganha novo peso.

Quem são os policiais que a prenderam?

Quem são os policiais que a prenderam?

Nenhum nome foi divulgado oficialmente. Mas os vídeos mostram agentes de uniforme padrão da PM de São Paulo, sem insígnias visíveis. Um deles, em tom firme, diz: “Você está sendo presa por desacato e injúria racial”. A resposta de Aline? “Ah, tá, então é isso? Só por isso?”. Ela não se contém. Nem por um segundo. E isso levanta uma pergunta incômoda: será que a prisão foi justa? Ou foi um espetáculo?

Na internet, os comentários se dividem. Para uns, ela é uma “herói da resistência”, vítima de um sistema que cala vozes progressistas. Para outros, é uma “provocadora que merece cadeia”. Mas o que ninguém discute: o vídeo foi feito para ser visto. E foi. Milhões de vezes. O que ela fez não foi apenas desobedecer. Ela transformou uma prisão em campanha eleitoral.

O que isso muda na política brasileira?

O Brasil nunca viu uma figura como Aline. Ela não é candidata. Não tem partido. Mas tem audiência. E sabe como usar o caos como palco. Seu perfil no Instagram e no TikTok já registra crescimento de 300% nas 48 horas após a prisão. Doações para sua “campanha” começaram a chegar por Pix. Um grupo de jovens criou um meme: “Esquerdogata 2026 — Deputada ou Presa?”.

Isso é novo. Não é só ativismo. É política híbrida: parte performance, parte jornalismo, parte guerrilha digital. E ela está jogando com as regras do jogo. Enquanto políticos tradicionais se escondem atrás de assessorias, ela fala direto para a câmera — e sabe que, mesmo presa, será mais ouvida.

Qual o próximo passo?

Qual o próximo passo?

A prisão foi preventiva, mas já foi convertida em liberdade condicional após 12 horas, por decisão judicial. Ela foi liberada sob a condição de não se aproximar de quartéis da PM ou de políticos da direita. Mas isso é um detalhe. O que importa é que ela já venceu. A prisão não a silenciou. Aumentou sua voz. E agora, ela tem um novo discurso: “Vocês prenderam uma militante. Mas não prenderam a ideia.”

Enquanto isso, a Polícia Civil de Ribeirão Preto investiga a acusação de injúria racial. O laudo de áudio está em análise. O Ministério Público ainda não se manifestou. Mas uma coisa é certa: o caso não vai acabar aqui.

Frequently Asked Questions

Por que a prisão de Esquerdogata gerou tanta polêmica?

A prisão gerou polêmica porque o vídeo da abordagem foi feito como uma performance política. Aline Bardy Dutra, com 1 milhão de seguidores, usou o momento para fazer críticas diretas às forças policiais e ao sistema, enquanto se apresentava como vítima da repressão. Isso transformou o episódio em um símbolo da polarização: para uns, ela é uma ativista perseguida; para outros, uma provocadora que desrespeitou autoridades em serviço. A mídia nacional cobriu o caso como um fenômeno cultural, não apenas jurídico.

O que é injúria racial e como ela se aplica nesse caso?

Injúria racial é o crime de ofender alguém com base em raça, cor, etnia ou religião, previsto no artigo 140, §3º do Código Penal. A PM alega que Aline usou termos racistas contra um agente, mas isso ainda não foi comprovado. O laudo de áudio do vídeo está sendo analisado por peritos. Se confirmado, ela pode responder a processo criminal. Se não, a acusação pode cair por falta de provas — mas o dano político já foi feito.

Como o deputado Nikolas Ferreira está envolvido?

Nikolas Ferreira, deputado federal e aliado de Bolsonaro, apresentou uma queixa-crime contra Esquerdogata em agosto de 2025, acusando-a de incitação ao ódio e ameaças por vídeos que ela publicou sobre apoiadores da extrema direita. A prisão agora dá novo fôlego ao processo. Ferreira já declarou em redes sociais que “a justiça deve ser implacável com quem ataca as forças policiais”. Mas sua postura também é vista por críticos como uma tentativa de silenciar vozes progressistas.

Será que Esquerdogata realmente pode virar deputada federal?

Ela não é candidata ainda, mas o apoio popular cresceu exponencialmente após a prisão. Para concorrer, precisa se filiar a um partido e cumprir os requisitos legais — como ter domicílio eleitoral e não ter condenação criminal transitada em julgado. Se for condenada por injúria racial, isso pode impedir sua candidatura. Mas, se for absolvida, o episódio pode ser usado como trampolim eleitoral. Já há grupos organizando campanhas digitais para apoiá-la em 2026.

O que esse caso revela sobre a relação entre redes sociais e poder político no Brasil?

Esse caso mostra que o poder político hoje não está mais só nos partidos ou nas urnas. Está também nas redes, nas visualizações e na capacidade de transformar um momento de crise em um movimento. Aline não tem cargo, nem partido, mas tem audiência. E isso a torna mais poderosa que muitos políticos tradicionais. O sistema judicial responde a leis, mas a opinião pública responde a emoções — e ela sabe disso. Esse é o novo jogo da política brasileira.

Qual o risco desse tipo de ativismo para a democracia?

O risco é a banalização da violência e da provocação como ferramenta política. Se todos passam a ver a desobediência como estratégia de visibilidade, a autoridade perde legitimidade. Mas o outro risco é o silenciamento: quando vozes críticas são criminalizadas por críticas incômodas, a democracia também sofre. O desafio é equilibrar liberdade de expressão com respeito às instituições — e isso ainda não tem resposta clara no Brasil.

14 Comentários
Willian de Andrade
Willian de Andrade

outubro 28, 2025 AT 07:27

essa cena foi tipo um reality show de política
ninguém esperava mas deu certo

Bruna Oliveira
Bruna Oliveira

outubro 28, 2025 AT 12:13

Aline é a encarnação do neoliberalismo performático disfarçado de revolução
o capitalismo absorve até a rebeldia e vende como meme
ela não é ativista é produto

Thiago Silva
Thiago Silva

outubro 29, 2025 AT 05:31

eu entendo o lado dela mas também o dos policiais
é triste quando o diálogo vira espetáculo
todo mundo quer ser o herói do vídeo mas ninguém quer ouvir o outro

Francini Rodríguez Hernández
Francini Rodríguez Hernández

outubro 30, 2025 AT 20:08

nossa q ela é corajosa msm
ficou la rindo e falando tudo q todo mundo pensa mas nao ousa dizer
parabens

Naira Guerra
Naira Guerra

novembro 1, 2025 AT 14:02

ela não é corajosa ela é desrespeitosa
policial é gente também
não pode ter esse comportamento

Timothy Gill
Timothy Gill

novembro 1, 2025 AT 23:12

o problema não é ela o problema é o sistema que transforma desacato em capital simbólico
ela não criou o espetáculo ela só o aproveitou
o sistema já estava programado para gerar esse tipo de drama

gustavo oliveira
gustavo oliveira

novembro 3, 2025 AT 19:47

isso aqui é o Brasil em miniatura
um lado vê perseguição política o outro vê desobediência civil
e no meio todo mundo grava e posta
ninguém quer resolver só quer viralizar

Flávia Martins
Flávia Martins

novembro 5, 2025 AT 01:03

sera que ela ta mesmo querendo ser deputada ou só ta brincando?
porque se for real ela ta jogando no jogo errado

Willian Paixão
Willian Paixão

novembro 6, 2025 AT 07:25

eu acho que o mais importante aqui é que ninguém está falando do que realmente importa
o que acontece com as pessoas que são abordadas sem motivo
o que acontece com os policiais que são atacados por serem só funcionários
o que acontece com os jovens que acreditam que desrespeito é luta

Manuel Silva
Manuel Silva

novembro 6, 2025 AT 14:21

o video ta viralizando mas ninguem ta olhando pro laudo de audio
sera que ela falou mesmo ou foi editado?
isso ta virando uma guerra de memes e não de justiça

Rafael Pereira
Rafael Pereira

novembro 7, 2025 AT 01:53

se ela for presa por injuria racial ela perde o direito de ser candidata
mas se for inocentada ela vira ícone
o sistema tá jogando com ela e ela tá jogando com o sistema
ninguém ganha

David Costa
David Costa

novembro 8, 2025 AT 12:14

O fenômeno Aline Bardy Dutra representa uma mutação epocal na política brasileira: a transição da representação institucional para a representação performática. A mídia tradicional já não detém o monopólio da narrativa; o algoritmo é o novo constituinte. A prisão, longe de ser um ato de repressão, tornou-se um ritual de passagem simbólica - um rito de iniciação no culto da visibilidade. Ela não busca poder político, ela busca hegemonia cultural. E nesse campo, a prisão é o último recurso de legitimação. O que vemos não é uma mulher quebrando regras, mas uma nova forma de poder emergindo das ruínas da democracia representativa. O que vem a seguir não será eleição, será exibição.

José Vitor Juninho
José Vitor Juninho

novembro 9, 2025 AT 22:47

Eu entendo que muitos veem nela uma figura de resistência, mas... eu também me lembro de quando policiais foram agredidos por causa de coisas bem menores... e não foi viralizado... e agora, por causa de um vídeo... tudo muda? É justo? Não sei... só acho que a gente precisa de mais empatia, e menos show...

Sandra Blanco
Sandra Blanco

novembro 10, 2025 AT 09:53

ela merece cadeia

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