Violência médica contra gordas: a luta de Thais Carla pela maternidade
Igor Martins 27 setembro 2025 0 Comentários

Quando a influenciadora Thais Carla decidiu contar ao público como foi engravidar sendo pessoa plus size, a reação foi imediata. Entre mensagens de apoio e críticas, o que realmente trouxe discussões acaloradas foi o depoimento sobre a violência médica que ela e milhares de outras mulheres sentem nos consultórios.

O peso do preconceito nos consultórios

Thais tem 34 anos, duas filhas – Maria Clara, 8, e Eva, 5 – e um número crescente de seguidores que acompanham sua rotina de moda, lifestyle e, agora, ativismo. Ela conta que, ainda na adolescência, ouviu frases como “corpos gordos não dão filhos”. Esse tipo de discurso, porém, deixou de ser só conversa de corredor quando ela procurou um ginecologista para iniciar o planejamento familiar.

“O médico me olhou e disse que eu era irresponsável por estar acima do peso, que eu poderia ter complicações graves e que talvez eu nem conseguisse engravidar”, relata Thais. O diagnóstico veio acompanhado de um tom de julgamento que, segundo ela, transformou o atendimento em um ato de hostilidade. “Era como se a minha vida fosse impossível só por eu ser gorda”, desabafa.

Durante a primeira gravidez, o obstetra recomendou dieta extremamente restrita, exames adicionais que não eram necessários a gestantes com peso normal e, em algumas consultas, sugeriu até a interrupção da gestação caso o ganho de peso fosse considerado “excessivo”. Thais descreve que a pressão para perder peso era constante, algo que nunca havia sido sugerido a outras pacientes.

A segunda gestação trouxe o mesmo padrão de tratamento. Em vez de um acompanhamento acolhedor, ela se deparou com mais acusações de “irresponsabilidade” e com recomendações que pareciam focar mais no seu índice de massa corporal do que no desenvolvimento saudável dos bebês. Mesmo assim, ela permaneceu firme, confiando no próprio corpo e nas poucas profissionais que a trataram com respeito.

Para Thais, esse retrato não é exceção. Estudos recentes do Ministério da Saúde confirmam que mulheres com sobrepeso ou obesidade têm maior risco de sofrerem diagnósticos tardios, menos tempo de consulta e até recusa de procedimentos simples, como a marcação de ultrassom. O que deveria ser um cuidado integral se transforma, para muitas, num campo de batalha.

Uma maternidade que quebra padrões

Uma maternidade que quebra padrões

O ponto de virada para Thais aconteceu quando conheceu Israel Reis, fotógrafo que, logo de cara, deixou claro que desejava formar uma família. “Quando ele disse que queria filhos, eu fiquei com medo de não conseguir engravidar”, lembra. O casal, porém, teve a primeira filha depois de apenas oito meses de relacionamento.

A surpresa e a alegria foram acompanhadas de alívios: as duas meninas nasceram saudáveis, sem complicações que fizessem Thais crer que a medicina estava certa ao duvidar dela. “Foi um padrão lindo de romper, algo que eu nunca imaginei que seria tão simples”, celebra a influenciadora.

Ao se aproximar do oitavo Dia das Mães, Thais reflete sobre o quanto sua experiência mudou a forma como entende o papel da sociedade e do sistema de saúde. Ela usa sua plataforma para questionar não só a postura de alguns profissionais, mas também a ideia de que o corpo deve se encaixar em um modelo predefinido para ser considerado apto à maternidade.

Além da luta contra a gordofobia, Thais também compartilhou uma mudança de estilo que simboliza autoconfiança. Com a ajuda do estilista Dudu Farias, trocou roupas curtas e justas por vestidos midi, tons neutros e looks minimalistas que, segundo ela, “realmente mostram quem eu sou”. Parte das roupas antigas foi doada para ONGs, reforçando a ideia de que transformação pode ser, ao mesmo tempo, pessoal e social.

Hoje, a influenciadora recebe convites para participar de debates em universidades, painéis de saúde pública e campanhas de conscientização. Seu discurso tem alcançado tanto quem já passou por situações semelhantes quanto quem ainda não percebe a gravidade do preconceito nos consultórios.

Para quem ainda duvida da validade das queixas de Thais, basta lembrar que as duas crianças cresceram sem restrições médicas impostas por julgamentos de peso. Elas são a prova viva de que o corpo, independentemente do tamanho, tem a capacidade de gerar e cuidar de uma nova vida.

O que Thais espera agora é que os profissionais de saúde se eduquem, que políticas públicas incluam treinamento sobre preconceito corporal e que a sociedade, como um todo, deixe de lado a ideia equivocada de que um corpo gordo não pode ser maternidade. Enquanto isso, ela segue compartilhando sua rotina, suas lutas e suas conquistas, mostrando que, com apoio e informação, é possível transformar dor em força.